ANÁLISE DA EXPRESSÃO DE PROTEÍNAS DA VIA DE HIPÓXIA EM CARCINOMA EPIDERMOIDE DE CAVIDADE ORAL: RELAÇÃO COM AS CARACTERÍSTICAS CLINICOPATOLÓGICAS E PROGNÓSTICAS
Resumo: O carcinoma epidermoide de cavidade oral (CEC oral) é uma causa significativa de mortalidade e morbidade e está relacionado, principalmente, ao uso do álcool e tabaco. Alguns marcadores genéticos de resposta ao tratamento e evolução clínica já foram identificados para essa doença, como a HIF1α, a qual promove a transcrição de genes como PAI-1 e CA-IX, envolvidos na resposta celular à depleção de oxigênio. A proteína PAI-1é componente do sistema fibrinolítico e a CA-IX atua na regulação do pH em células tumorais, convertendo o CO2 em bicarbonato. Com o intuito de observar as influências dessas proteínas nas características clinicopatológicas e no prognóstico dos pacientes, será realizada uma análise semi-quantitativa de 52 indivíduos com CEC oral, por meio de imuno-histoquímica, e os cálculos e gráficos estatísticos serão realizados através do software Epi Info® v3.4.3, 2007. Espera-se com o projeto a validação de biomarcadores relacionados com a resposta ao tratamento e evolução clínica do CEC oral, um desafio que deve ser assumido por grupos de pesquisas que trabalham com a doença, com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e elucidar mecanismos da gênese tumoral que ainda não foram compreendidos.
O carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço (CECP) é o sexto tipo de câncer mais frequente, está associado a elevadas taxas de morbidade e mortalidade e a última estimativa mundial apontou uma incidência anual de 600 mil novos casos e 300 mil óbitos decorrentes da doença (SAMAN, 2012).
As características clínicas do CECP na população brasileira estão relacionadas, principalmente, a um maior consumo de álcool e tabaco: Estudos indicam que o hábito de fumar e de beber estabelece um sinergismo entre esses dois fatores, aumentando em 30 vezes o risco para o desenvolvimento desse carcinoma. Uma razão potencial para isto pode ser o fato do álcool agir como um solvente para os carcinógenos presentes no tabaco (FERREIRA; ROCHA, 2010). O tabaco sozinho é responsável por cerca de 42% dos óbitos e o risco de desenvolvimento de CECP é de cinco a nove vezes maior em tabagistas do que em não tabagistas, mantendo relação direta com a quantidade consumida. Já o etilismo pesado corresponde a aproximadamente 16% dos óbitos (INCA, 2014).
O CECP ocorre mais frequentemente entre a quinta e a sétima décadas de vida e no Brasil, a um risco estimado de 10 novos casos a cada 100 mil homens e 4 a cada 100 mil mulheres (INCA, 2014). Apesar dos avanços das técnicas cirúrgicas e de novas abordagens terapêuticas, a sobrevida média dos pacientes em estadios avançados da doença não tem aumentado substancialmente nas últimas décadas: pacientes portadores de CECP geralmente apresentam um padrão clínico heterogêneo e um prognóstico ruim nos estadios mais avançados e a taxa de sobrevida referente ao carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço, em um período de 5 anos, é de 50% e o tratamento é baseado em radioterapia, em combinação com cirurgia e/ou fármacos citostáticos. No entanto, a resistência a esses tratamentos, bem como a recidiva, são frequentes nesse carcinoma (FARNEBO et al., 2013; HSU et al., 2014).
Embora considerados como uma única entidade histopatológica, os carcinomas epidermoides de cabeça e pescoço são distintos quanto ao padrão de crescimento, comportamento clínico e prognóstico. O carcinoma epidermoide de cavidade oral (CEC oral) é o mais frequente tipo de câncer da área da cabeça e do pescoço e acomete, principalmente, as regiões do epitélio de revestimento dos tecidos. O CEC oral ocorre principalmente na língua e no assoalho de boca e estas áreas representam 90% das que são afetadas por esse carcinoma. Além disso, o CEC oral é conhecido por apresentar baixas taxas de sobrevida e prognósticos ruins (NOGUTI et al., 2012; DORSEY; AGULNIK, 2013).
A maioria das alterações genéticas importantes no desenvolvimento do câncer ocorre nos genes que controlam a proliferação celular, mas apesar disto, outros estão diferencialmente expressos entre tumores sólidos e tecidos normais como, por exemplo, os de hipóxia. A proteção contra hipóxia em tumores é um passo importante no desenvolvimento e na progressão tumoral, com ativação do complexo transcripcional hypoxia-inducible factor-1 (HIF-1), que sob as condições de depleção de oxigênio promove a transcrição de mais de 100 genes que atuam em mecanismos específicos para evitar a morte celular (KOH et al., 2010).
O complexo HIF-1 é um fator de transcrição composto por uma subunidade - alpha e uma subunidade - beta, sob condições de hipóxia, a subunidade HIF1α é estabilizada e translocada do citoplasma para o núcleo, onde dimeriza com a subunidade HIF1β, formando o complexo HIF-1 transcricionalmente ativo, que se associa com coativadores transcricionais e promove a expressão de genes envolvidos em processos do metabolismo celular, angiogênese, metástase, apoptose, dentre outros protagonistas da adaptação à baixa oxigenação (STOLZE et al., 2006)
Em relação à metástase, uma das etapas primordiais em seu processo é a fibrinólise, que é definida como a degradação da fibrina mediada pela plasmina. O sistema fibrinolítico, representado pelo receptor celular da uroquinase (uPAR), pela uroquinase (uPA) e pelo inibidor do plasminogênio ativador (PAI-1), apresenta clara relação com a tumorigênese, por atuar na degradação da matriz extracelular e por influenciar na proliferação, na migração, invasão e adesão das células tumorais, além de estar envolvido nos processos de angiogênese e apoptose (GIACOIA et al., 2014).
Além disso, o mecanismo de hipóxia também regula a expressão de genes envolvidos em processos do metabolismo celular. Desta forma, a proteína CA-IX catalisa as reações reversíveis de hidratação do CO2 e desidratação do bicarbonato e é encontrada em níveis elevados nos tecidos tumorais. O dióxido de carbono (CO2) é encontrado em todos os organismos vivos em equilíbrio com o bicarbonato (HCO3-). Este é insolúvel nas membranas lipídicas e precisa ser transportado, enquanto o CO2 transita livremente do meio intracelular para o extracelular, e vice-versa. Assim, as anidrases carbônicas são expressas pelas células e desempenham um papel primordial na regulação do pH intra e extracelular, sendo que os tecidos normais apresentam valores de pH que giram em torno de 7,4 e nos tecidos tumorais esse valor cai para, aproximadamente, 6 (HASSAN et al., 2013).
Como poucos marcadores preditivos foram identificados para o CEPC e como existem muitos casos nos quais os marcadores tumorais disponíveis são insuficientes para distinguir tumores histopatologicamente semelhantes e que possuem evolução clínica e resposta ao tratamento diferentes, este projeto visa a busca de biomarcadores para o carcinoma epidermoide de cavidade oral; já que este é um desafio que deve ser assumido por grupos de pesquisas que trabalham com a doença, com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e elucidar mecanismos da gênese tumoral que ainda não foram compreendidos.
Data de início: 01/08/2014
Prazo (meses): 12
Participantes:
Papel | Nome |
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Aluno Doutorado | GABRIELA TONINI PETERLE |
Aluno Mestrado | CINTHIA VIDAL MONTEIRO DA SILVA COUTO |
Coordenador | ADRIANA MADEIRA ALVARES DA SILVA |