Estratégias para ampliar a detecção precoce e o monitoramento do câncer bucal no SUS-ES

Resumo: Em consonância com a política nacional e estadual de saúde e visando contribuir com as ações da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo, a qual tem adotado um conjunto de políticas de inovação em saúde, investindo na qualificação e modernização das práticas de cuidado da rede própria e no apoio aos municípios, esta proposta tem como objetivo principal elaborar estratégias para ampliar a detecção precoce do câncer bucal no âmbito do Sistema Único de Saúde no Estado do Espírito Santo.
A escolha dessa temática justifica-se pela necessidade de promovermos mudanças no atual cenário do câncer de boca no Espírito Santo, que apresenta uma das maiores taxas de incidência de câncer da cavidade oral (13,58/100 mil) no Brasil, além da elevada morbimortalidade.
Há mais de 10 anos nosso grupo vem estudando diferentes aspectos do câncer de cabeça e pescoço, abrangendo os sítios cavidade bucal, orofaringe e laringe. Neste período participamos dos dois maiores estudos multicêntricos internacionais sobre epidemiologia genética do câncer na América do Sul: InterCHANGE (2011-2021) e HEADSpAcE (2019-2021), ambos coordenados pela International Agency for Research on Cancer (IARC), órgão da Organização Mundial de Saúde (OMS) responsável pelos estudos de câncer no mundo, colocando o Espírito Santo no cenário nacional e internacional, com colaboração imprescindível do Hospital Santa Rita de Cássia e HUCAM. Resultados preliminares analisando 1.829 indivíduos com câncer de cabeça e pescoço mostraram que aproximadamente 75% dos casos foram diagnosticados tardiamente. As razões apontadas como responsáveis pelo diagnóstico tardio na América do Sul foram multifatoriais e incluíram a falta de conhecimento sobre os sinais e sintomas do câncer bucal, tanto por parte dos profissionais da saúde quanto dos pacientes; falta de acesso ao sistema de saúde; escassez de investimentos e fragmentação dos serviços de saúde3. Estes dados confirmaram resultados prévios publicados por nosso grupo que apontavam deficiências importantes no acesso à Atenção Primária em saúde bucal no Espírito Santo, dentre as quais destacamos a condição bucal precária5 observada em mais de 90% da população com câncer de boca5 e o tempo médio de 8,7 meses, desde a percepção dos primeiros sinais e sintomas pelo paciente até a consulta de diagnóstico. Além disso, a falta de suporte técnico laboratorial para realizar os exames necessários para classificar os tumores de acordo com o novo Sistema de Estadiamento das Neoplasias Malignas, publicado em janeiro de 2017, pode contribuir para atrasos e deficiências no diagnóstico. Assim, temos apoiado ações voltadas ao desenvolvimento da autonomia necessária para conduzir estas análises, proporcionando acesso para a população do SUS-ES, de forma rápida e efetiva, permitindo assim, estratificar os pacientes para uma escolha terapêutica mais direcionada.
Portanto, considerando o cenário atual, podemos apontar o diagnóstico tardio como uma das principais razões para a elevada morbimortalidade por câncer de boca, reduzindo as taxas de sobrevida e as chances de cura, demandando tratamentos mais complexos, os quais frequentemente acarretam sequelas, prolongam o afastamento do convívio social e trabalho, além de aumentarem os custos para o Sistema Único de Saúde. Dessa forma, há uma demanda específica no estado do Espírito Santo para a elaboração de ações para o enfrentamento do câncer bucal visando reduzir os índices de estadiamento, aumentando a detecção precoce e a efetividade do diagnóstico.
Desse modo, nossa proposta consiste em elaborar estratégias para o enfrentamento do câncer bucal no Espírito Santo, sobretudo, ampliando a detecção precoce, cujos objetivos específicos visam: a) aprimorar o Programa de Capacitação dos profissionais da atenção primária, promovendo a educação permanente em saúde; b) estimar o custo econômico da capacitação dos profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) para detecção precoce do câncer bucal no SUS-ES; c) definir a população de risco para o câncer bucal e monitorar seu acesso à atenção primária; d) monitorar os fluxos assistenciais no âmbito do SUS para compreender a jornada típica do paciente até o diagnóstico, contribuindo para identificar os gargalos no processo de transição para o novo modelo de regulação formativa; e) auxiliar na identificação e organização do apoio matricial para a detecção precoce do câncer bucal no SUS-ES; f) dar suporte laboratorial para a realização das técnicas laboratoriais necessárias para a classificação dos tumores de acordo com o novo sistema de estadiamento clínico.
Para a implementação desta proposta contaremos com uma equipe multidisciplinar composta pelas equipes de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Santa Rita de Cássia e HUCAM, juntamente com gestores da Referência Técnica em Saúde Bucal da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo e colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás. O Programa de Capacitação será realizado nas modalidades presencial e à distância, onde os profissionais da atenção primária de cada região do Estado receberão educação continuada. Dois questionários adaptados e validados serão aplicados utilizando o software REDCap, antes e após a capacitação, para avaliar o desempenho dos profissionais da Atenção Primária quanto à detecção precoce do câncer bucal. Estratégias para identificar e monitorar a população de risco para o câncer bucal serão elaboradas, considerando a realidade das Unidades Básicas de Saúde e a cobertura de saúde bucal do município. Após esta etapa iniciaremos o monitoramento da população de risco, utilizando uma tecnologia para dispositivo móvel desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás. Durante essas etapas, os fluxos assistenciais no âmbito do SUS serão monitorados. Utilizaremos um questionário estruturado para compreender a jornada típica do paciente até o diagnóstico e identificar possíveis gargalos neste processo. Além disso, esta etapa será importante para complementar as ações de integração entre a atenção básica e a atenção especializada iniciada no âmbito do Edital PPSUS 25/2018, buscando soluções a partir das nossas experiências recentes. Com base nas informações levantadas, equipes potenciais de Apoio Matricial serão identificadas e estruturadas com o intuito de dar suporte ao diagnóstico precoce do câncer bucal, sobretudo aos municípios com maior deficiência nesta área. Adicionalmente, propomos manter o suporte laboratorial necessário para subsidiar a classificação dos tumores malignos de acordo com o novo sistema de estadiamento clínico, disponibilizando nossa infraestrutura e expertise para o diagnóstico pelas técnicas de imuno-histoquímica e hibridização in situ para detecção de HPV.
Esperamos com os resultados deste projeto contribuir, de forma significativa, com o aumento da detecção precoce do câncer de boca no Espírito Santo, melhorando a sobrevida e resposta ao tratamento, e contribuindo para a redução do impacto social e econômico provocado pelo diagnóstico tardio destes tumores.

Data de início: 01/06/2020
Prazo (meses): 24

Participantes:

Papelordem decrescente Nome
Aluno Doutorado ENES BUCK MUTIUA CANTALA XAVIER
Aluno Doutorado WILLENE DOS SANTOS MACHADO ZORZANELI
Aluno Doutorado CAMILA BATISTA DANIEL
Aluno Doutorado JÉSSICA GRAÇA SANT`ANNA
Aluno Mestrado REBECA RAINE DOS SANTOS LOPES

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